quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

CEZANE

Eu olhava pela fresta, pelo mínimo orifício que me dividia da parte de fora, do ar livre que respiravam e que eu não sentia, da correria, do som alto e repetitivo da vida que pulsava.
É bonito, é colorido e é abstrato. É como se a porta se abrisse, e o buraco da fechadura, que antes parecia o mundo inteiro visto daqui, já era pequeno aos meus olhos, que queriam mais, queriam ser, queriam estar.

Lá fora, nu  desprotegido, eu andei aos galopes, solto, desperto, mas atento ao que não me podia faltar depois. Os instantes com a porta aberta valem todos os segundos, e mesmo que eu não tenha mais força para caminhar, as lembranças me visitam, e meus olhos são lavados por elas, e nenhum vermelho pode mais manchar.
A vida é pequena, curta, distante e implacável. O que não se faz hoje, se perde hoje, e amanhã já se está em dívida. O tempo vai se cumprir.

(MANINHO)
Músico, Poeta e Médico Brasileiro a qual muito admiro.